Viver sem violência é um direito Suelen Aires Gonçalves
Socióloga e professora universitáriastyle="width: 25%; float: right;" data-filename="retriever">
Novembro é um mês de muitas reflexões, construções e lutas na perspectiva dos Direitos Humanos no Brasil e no mundo. Mas nem sempre temos o que comemorar nestes datas. Na véspera do Dia da Conciência Negra, nosso Estado foi notícia internacional com o espancamento e morte de João Alberto Silveiras Freitas, um homem negro de 40 anos. Ele foi assassinado por seguranças do Supermercado Carrefour, em Porto Alegre, de forma brutal. Mais uma vida ceifada vítima do racismo estrutural que mata a cada 21 minutos um homem/jovem negro no Brasil.
Neste mesmo período, 25 de novembro, é destaca-se o Dia Internacional de Combate à Violência Contra a Mulher. Nossa coluna vai tratar das desigualdades estruturais de raça e gênero, atravessadas pela violência.
HOMICÍDIOS
A morte de Beto não é um caso isolado. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em relatório lançado em novembro do corrente ano, a violência e desigualdade racial no Brasil caminham lado a lado. A população negra representa 56,7% da população nacional. Junto a isso, 74,4% das vítimas da violência letal (homicídios) e 66,7% da população carcerária neste país são de pessoas negras. Entre 2008 e 2018, os homicídios contra elas subiu 11,5%, enquanto que, com referência aos não negros, caiu 12,0%. Tivemos 24.728 jovens negros mortos no ano de 2018, sendo 1 vítima a cada 21 minutos no Brasil.
MUDANÇA SOCIAL E CULTURAL
Sobre a violência de gênero dia 25 é um marco de dias de ativismo pelo fim da violência contra as mulheres. Recordamos das irmãs Mirabal assassinadas em 1960 pela ditadura de Rafael Leónidas Trujillo, na República Dominicana. Seus assassinatos foi um acontecimentos que mudou a conjuntura local e acabou mobilizando o país e permitindo a queda do regime. Os dados apresentados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública apresentam que as mulheres negras foram 66,6% das vítimas de feminicídio em 2019 a intersecção de gênero e raça é presente nos casos de violência contra as mulheres no Brasil.
Uma mudança social e cultural faz-se necessária neste país para enfrentar o tema das desigualdades e a violência. A banalização da violência contra a população negra e mulheres precisa ser combatida com promoção dos direitos humanos e sociais como um todo em nosso país. Por isso, hoje, lembramos dos casos acima citados e lutamos por justiça. Viver sem violência é um direito de todas e todos!
*Este artigo foi originalmente publicado na edição de 26 de novembro de 2020.
O negócio do medo Silvana Maldaner
Editora de revistastyle="width: 25%; float: right;" data-filename="retriever">
Naturalmente, sabemos que o corpo humano vai envelhecendo e as células vão morrendo e sendo substituídas. Com o passar dos anos, a vitalidade não é mais a mesma, os órgãos podem não responder mais com a mesma eficiência e o corpo físico todo vai morrendo aos poucos. Mas quando que somos velhos? Quando que devemos parar? Em que momento da vida somos descartáveis?
Tenho lido muito sobre este assunto e me chama a atenção a maneira como as pessoas decidem viver ou terminar a vida. Muitos podem me perguntar, mas eu nem pensei sobre isto. Não decidi nada, ou pior, não aceitam que vão envelhecer.
Tudo na vida é decisão. Conheço pessoas de 30 anos bem velhas. Muito velhas. Idosas mesmo. Intransigentes, impertinentes, cansadas, sem viço, sem brilho, sem planos, sem metas e sem euforia. Conheço, também, pessoas de 90 anos bem jovens. Cheias de vitalidade, disposição, alegria e motivação para viver.
Acredito muito que o estado mental e atitude pessoal tenha poder determinante no envelhecimento. A acomodação e a preguiça, geralmente, resultam em pessoas que fazem pouco e qualquer atividade representa esforços demais. Pessoas pessimistas e tóxicas, também, tendem a adoecer mais rápido e a se recuperar com mais lentidão.
Quando o ser humano entender que não existe nada fora de si, que tudo vem de dentro vai entender que é possível envelhecer com dignidade, saúde e, acima de tudo, vivificando a melhor idade da vida. Que alia experiência, maturidade e aproveitamento do tempo. O sábio não perde tempo com miudezas. Sabe que o tempo não volta, e o que tem de mais precioso é o tempo. O tempo vale mais que dinheiro.
Quando converso com pessoas com bastante experiência de vida, percebo que tudo na vida são escolhas mesmo. Uma pessoa rabugenta também pode ficar velha. Uma pessoa mentirosa, sem escrúpulos também pode ficar velha. Uma pessoa que passou a vida na frente de uma televisão ou fofocando também pode chegar na terceira idade. O que me refiro que o plantio de uma vida será colhido. Seja no corpo ou na mente. E, também, nas relações afetivas cultivadas ou não.
Uma pessoa que nunca teve tempo para cultivar a gentileza, o carinho e afeto não pode esperar muita benevolência com parentes e amigos procrastinados.
Uma pessoa que nunca pensou em cuidar de sua saúde e a fazer escolhas mais inteligentes também vai colher os efeitos dos excessos. Seja no fígado, pulmão, estômago ou coração.
Não tenho certeza de como serei ou estarei na minha velhice, mas tenho procurado todos os dias ter mais consciência da minha finitude, do tempo transitório da minha existência e compreender que a saúde é um resultado de alimentação, atividades físicas, mentais e espirituais. Também entender que além do cuidado consigo, é preciso regar as plantinhas de afeto com familiares, amigos e pessoas que são importantes.
E, se porventura, ainda assim, eu for jogada em algum asilo, quero pelo menos poder contar piadas para as companheiras de quarto ou ser a palhaça da turma, pois ninguém merece conviver com gente amargurada.